domingo, 23 de maio de 2010

Eu professor OFA, categoria "O"... de "Otário"...

01 Abril 2010
-
Em julho de 2009, devido ao término de um contrato de 2 anos como professor em uma prefeitura aqui da Baixada Santista, tive que procurar outro trabalho. Como já havia feito a inscrição no começo do ano para lecionar nas escolas do Estado de São Paulo como prof. eventual ou OFA, achei que tudo daria certo. No entanto, justamente naquele julho de 2009, o governador Serra mudou as regras que dizia o seguinte: "a partir de agora, toda a categoria de temporários que não havia dado aulas no Estado até agora, entrarão na categoria "L", e, portanto, se derem aula ainda este ano de 2009, não poderão lecionar pelos próximos 200 dias de ano letivo de 2010".
-
Foi um banho de água fria, pois a única alternativa que possuía para pagar minhas contas em meio a esta instabilidade comum a toda classe, era justamente as aulas que eu poderia pegar no Estado. Mas o problema estava em sacrificar menos de 5 meses de trabalho em 2009, por um ano inteiro de 2010, sem a possibilidade de trabalhar nas escolas estaduais de São Paulo.
-
Conversei com a família e resolvi não arriscar. Entreguei meu apartamento alugado e resolvi ir morar com minha mãe viúva e aposentada no ápice dos meus 37 anos de idade.
-
Tudo Bem! Neste ano de 2010, após a provinha dos OFA's que eu fiz e me saí razoavelmente bem com 49 pontos, consegui entrar no processo de atribuição. No dia marcado, estava eu lá com mais uma centena de professores, mas para nossa surpresa, todas as vagas para professores de História, já haviam sido preenchidas pelos efetivos, não sobrando mais espaço para mim e para meus companheiros. Felizmente, havia um significativo saldo de aulas para "Informática Educacional", que justamente um antigo curso técnico que fiz, permitia preencher.
-
Fui à escola, afastada 27km de minha residência e cerca de 32km do meu outro trabalho. Este outro trabalho era numa escola particular em Santos, onde teria que largar à 12h e estar na área continental de São Vicente, às 13h, caso eu quisesse continuar pagando minhas contas. Só que tive que optar, pois era impossível conciliar as duas. Pagava R$ 60,00 por semana a um moto-taxi para conseguir chegar no horário. Não teve jeito! Tive que largar a primeira, não compensava...
-
O secretário da escola, advogado formado, e que ganha seus R$ 748,00 por mês para resolver de um tudo, passou as instruções. Juntei toda a papelada e fiz a perícia em tempo recorde em um hospital, também do Estado. Entreguei tudo em tempo.
-
A coordenaçlão também foi muito importante, pois alertaram-me sobre a impossibilidade de tirar mais de duas abonadas durante todo o ano de 2010, e também, que não poderia tirar licença saúde, pois caso isso acontecesse, eu seria dispensado imediatamente. Uma colega disse o seguinte pra mim: "Paulo, se você amputar a perna, vem trabalhar com ela na mão, senão o Serra te manda embora". Fala a verdade... Isso é que é humor negro, né???
-
Já com quase dois meses de trabalho em sala de aula (visto que a sala de informática da escola está com seus 13 computadores desligados e sem previsão de instalação), nosso secretário veio com nova informação: "Paulo, aquela perícia que você fez pelo hospital do Estado, não tem mais validade. Quer dizer: agora você terá que ir a uma clínica particular passar por outra perícia". Cheio de raiva, porque já via que naquele segundo mês não daria tempo para dar entrada nos papéis e, portanto, não receberia por mais um mês o salário desde o dia 18 de fevereiro, fui fazer a tal nova perícia em uma clínica da cidade.
-
Chegando lá, a atendente cobrou seus R$ 20,00 e, mesmo que eu alegasse que era o contratante que deveria pagar, tive que desenbolsá-lo sem reclamar. Bom, a perícia, todo brasileiro já sabe como é, né??? O médico saca seu estetoscópio mirabolante, examina o peito com ele, pergunta se toma remédio, assina aqui e pode ir embora... R$ 20,00...
-
Está muito difícil, nós somos muito desvalorizados, mas também, pensemos bem: que pai de aluno nos apoiaria por receber nossos mil e tantos reais pelo absurdo dos descasos, quando a maioria dos pais recebem seus R$ 500,00 por mês. Para eles, nós reclamamos demais...
-
Parabéns a todos estes atores que não administram direito nosso trabalho e nossas contas, ganham eleições e julgam-se solucionadores de números; para eles, que se dane toda a humanidade... Assim que eu puder, mando a conta pra todos eles... "Vão pagar com juros... eu juro...".
-
Paulo Sergio Teixeira [01/abr/2010]

9 comentários:

  1. Muito Show esse comentario é a realidade do Professor!

    ResponderExcluir
  2. Paulo, este é o retrato da educação em nosso país. Você de São Vicente, eu de São Paulo, milhares de colegas no Brasil inteiro clamam por dignidade. Somos cada vez mais humilhados, desvalorizados e temos cada vez menos direitos. As propagandas na TV servem apenas para colocar a opinião pública contra nós pois a maior parte da população acredita que ganhamos bem, temos um excelente bônus no início do ano, temos condições maravilhosas de trabalho com escolas bem equipadas e funcionando em perfeita harmonia e que quando algo dá errado, somos nós os culpados por tudo. Mal sabem estas pessoas que a maior parte dos professores são OFAS, ou seja, contratados e que sofrem a cada ano humilhações nas atribuições de aulas, se sentem inseguros em relação ao futuro pois não sabem sequer se conseguirão pagar suas contas com o que recebem e têm que contar com a ajuda de outros para poder comer nos meses em que ainda estão aguardando pelo seu pagamento, que têm que se submeter aos desmandos da administração pública que nada entendem de educação e de sistema educacional, muitas vezes temos que tirar de nosso bolso material para trabalhar em sala de aula, muitas vezes somos obrigados a lidar com situações epara os quais não somos preparados por nenhuma secretaria, mas pela nossa própria experiência de vida, enfim, somos sobreviventes de um sistema falido que não nos dá condição de trabalho e nos envergonha. Mas apesar de tudo isto, não desisitimos porque somos destemidos, corajosos, lutadores e persistentes pois, ainda que difícil acreditamos em nosso trabalho e que com ele poderemos mudar alguma coisa.

    Fique em paz!

    ResponderExcluir
  3. O QUE PODEM ME DIZER SOBRE ESSA MATERIA?

    Os cerca de 16 mil professores temporários da rede estadual de ensino que tiveram o contrato prorrogado neste ano vão receber os valores referentes a dezembro de 2010 e janeiro de 2011, de acordo com o período de trabalho de cada docente. Segundo a Secretaria de Estado da Educação, essa informação já foi passada à Secretaria da Fazenda, que definirá de que forma vai pagar os trabalhadores. A data do depósito, porém, não foi fechada. Ainda segundo a pasta, esses temporários não terão o direito de receber férias nem 13º salário.

    ResponderExcluir
  4. Estou passando por uma situação muito parecida. Aliás, não só eu, mas todos os meus colegas de trabalho da categoria O. O mais novo absurdo é que todos os "o" novatos tiveram seus contratos barrados por conta de uma portaria. Meu contrato está lá na gaveta da secretaria da escola e minhas contas só chegando!

    ResponderExcluir
  5. EU PROFESSORA CATEGORIA O, PERDI O DIREITO AO HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO. QUANDO ERA EVENTUAL TINHA MAIS DIREITOS QUE HOJE. EU ME SINTO UM VERDADEIRO LIXO. PROFESSORA ELENEUDA

    ResponderExcluir
  6. Trabalhamos como qualquer outro professor,efetivos,Ofas e somos maltratados e humilhados,meu diploma não é diferente de nenhum outro...precisamos de apoio. queremos que acabem com essa divisão,meses sem receber,sem direito a hospital,férias e muitas outras coisas!!! Chega de categorias,somos professores e merecemos respeito!!! Rose(Poá)

    ResponderExcluir
  7. Prof Helena

    Nossa situação é absurda. Não temos nenhum direito, mas trabalhamos como os efetivos. Se eu pudesse, largaria tudo, mas preciso. Sem contar que somos desdenhados e apedrejados desde os alunos até o funcionário público que está acima de nós.

    ResponderExcluir
  8. PARABÉNS PELO ARTIGO.EIS AI O RETRATO DE NÓS PROFESSORES......;AMO MINHA PROFISSÃO.,,MAS ESTÁ IMPOSSÍVEL SOBREVIVER COM O RETORNO QUE ELA ME PASSA.

    LUCIENE

    ResponderExcluir
  9. acabei de chegar em casa e desanimado pela circunstâncias resolvi pesquisar direitos e deveres do OFA e me deparei com essa matéria que me deixou mais indignado com a situação. Percebi que todas as alegações descritas não passam de verdades incontestáveis e que o desrespeito com a Categoria "Professor" seja ela qualquer letra do abecedário é real. Escolhi a área de Humanas porque amo ajudar o próximo, mas entendo hoje porque Jesus disse que no fim dos dias o amor de muitos esfriaria. O Estado e sua Burocracia transforma pessoas em monstros que com descasos nos tratam como animais, e que por sua vez, aos cansados desta rotina transferem essa agonia aos alunos transformando tudo num grande poço de amargura e rancor.Sem contar que todo este processo só torna a escola como ambiente hostil tanto para quem estuda (alunos) como para quem trabalha (Prof). Mas como aluno do primeiro ano de Direito e como OFA vou trabalhar para que o estado possa enxergar o nível de injustiça que ele esta cometendo contra sua própria família. Não sendo eu mais um condizente com os descasos e ensinando a quem esta ao meu redor que conheço os meus direitos e deveres.

    ResponderExcluir